23 de fevereiro: princesa de Serrinha exige uma tenda para se proteger do sol.

Goleiro é um bicho esquisito, como se sabe, seu maior prazer é impedir o prazer do outro. Joga de luvas e adora encostar no pau da trave. Ou seja, é sado-fresco. E por gostar de uma frescura, nada mais justo que reivindicar um guarda-sol, um chapéu mexicano ou uma tenda para se abrigar do sol.  E não é que neste sábado teve faniquito no baba por causa de uma sombra.  Isso mesmo,  ele só queria embaixo da sombra.... O goleiro vindo do Deserto de Serrinha resolve rodar a baiana e não teve macho capaz de dobrar a cabeça da fofa. Ficou lá de cara amarrada, pernas cruzadas e alisando os cabelos longos. E ficou tão amuada que mesmo todo mundo cedendo a sombra solicitada,  já era tarde demais. O orgulho estava ferido e quando um goleiro fica assim, de orgulho ferido, não tem bofe que amoleça o coração. Felizmente foi uma dessas tardes que tínhamos uma trinca de goleiros. Aliás, o campo parecia festa de largo, nunca se viu tanta gente por aquelas bandas. Dava uns 4 times. Tinha convidados, penetras, crianças, foi aquela velha discussão sobre quem deve jogar  mais entre os novatos e os infrequentes, claro, sem nenhuma conclusão. Quem reapareceu por lá foi Ailton; o patrão deu um vale-baba e ele foi  lá dar umazinha. Ele aproveitou-se desta condição e, se achando, foi lá ver se virava a cabeça da frangueira  mal-criada que permanecia sentado no banco; não adiantou, a louca virou a cabeça, jogou os cabelos pra cima e gritou:

 - sai, sai, sai, eu estou magoadérrima..... te jogo uma luva na cara.     

Depois começou a atender o telefone celular e não parava de flertar com outro baba.

- Sim Carlão, posso querido. Sei, sei, jogo sim, até pagando mais caro, eu pego aí, aqui é um horror, você precisa ver. Me botam pra jogar no sol e me maltratam muito. Olha, sábado vocês me pegam de andor lá na Baixa do Tubo. Quero voltar pra esse baba por  cima, só jogo com uma  tenda em cima do gol  porque não posso estragar minha pele.  Minha vingança será maligna.      

Outro boleiro se atira aos pés da frangueira:

-Não ! não !  não aceito, não aceito, não aceito ! -  gritou louco e se atirando sobre as pantufas do goleiro e agarrando-lhe os pés,  despertando a curiosidade de todos que nunca  imaginavam tanta admiração e solidariedade.  

-Eu vou com você, vou te abanar na sombra e no sol, vou te passar creme na pele, amarrar teus longos cabelos, abotoar tuas pantufas, esse baba não te merece.

- Sai, sai, sai, banheirista, eu estou magoadérrima.... te jogo uma luva na cara.  E liga novamente para Carlão e novas ameaças de chantagem. E assim foi durante toda a tarde enquanto a bola rolava no que sobrou da grama, a princesa de Serrinha de cara amarrada e o sol caindo feito peito de velha.

Uma tarde de muita gente e bons babas; aliás, este ano ainda não tivemos uma única confusão. Não me recordo de brigas com o juiz, as bolas que caem sendo repostas com alguma rapidez. O ano começou bem.  Ainda não tivemos Negueba de volta  e parece que vai precisar também de um andor e uma comitiva para buscá-lo.  Os Diamantes Verdes estavam impossíveis, jogamos no esquema  três- três- passará, derradeiro ficará...  com Cesar,  Igor e genilson fazendo tabelinhas na frente. Ganhamos dos Celestinos Celestiais comandados por Valério e João, os dois jogando agora assumidamente no ataque.  Perdemos em seguida para os Chupadores de Manga no último minuto mas voltamos depois e ganhamos o resto. Igor fez sete gols e tá deixando Djalma e Dunga cheirando poeira.

Parece que vamos ter que comprar  coletes de manga comprida; tem um boleiro que tem a pele também muito delicada e só joga de camisa de manga comprida e com outra por baixo.